Pesquisadores da Unimontes buscam no cerrado alternativas sustentáveis para o tratamento do câncer de boca

O Carcinoma de Células Escamosas (CCE) é o câncer mais comum na boca e é considerado um problema mundial de saúde pública. Trata-se de uma neoplasia maligna com origem no epitélio de revestimento da boca sendo responsável por cerca de95% das lesões nesta região do corpo. No Brasil, o cãncer de boca é o quinto mais frequente em homens e o 12ª nas mulheres, segundo o INCA (Instituto Nacional do Câncer). A estimativa para 2016 aponta para 11.140 novos casos de câncer da cavidade oral em homens e 4.350 em mulheres. 

Os fatores mais associados ao desenvolvimento do CCE bucal são: tabagismo, alcoolismo e radiação solar. Atualmente, diversos estudos tentam identificar marcadores genéticos em pacientes que apresentam câncer em boca e com um comportamento clínico mais agressivo.

Diante da gravidade da doença e da necessidade de melhorar as alternativas de tratamento, um grupo de pesquisadores da Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes) vinculados ao Programa de Pós Graduação em Ciências da Saúde (PPGCS) desenvolvem, desde 2007, estudos científicos acerca da doença. Dentre todas as referências de pesquisa a que se destaca é a utilização da diversidade do Bioma Cerrado, vegetação predominante na região do Norte de Minas.

Os pesquisadores sinalizam a necessidade de investigar o melhor prognóstico e tratamento dos indivíduos acometidos pela doença é significativa e, como característica, o CEB possui áreas hipóxicas, dificultando o efeito da radioterapia. Atualmente, a combinação entre quimo e radioterapia tem mostrado resultado razoável para o tratamento, porém, o custo-benefício desta associação é baixo. Por isso, o desenvolvimento de pesquisas com foco em novas estratégias terapêuticas.

A PARTIR DA EXTENSÃO

O coordenador dos estudos é o pesquisador André Luiz Sena Guimarães, doutor em Farmacologia, Bioquímica e Molecular e, também, coordenador do Laboratório de Pesquisa em Saúde do PPGCS. Segundo ele, as pesquisas são realizadas em pacientes do Norte de Minas atendidos em unidades de saúde de Montes Claros, em especial, no Hospital Dilson Godinho, onde foi implantado o projeto de extensão da Unimontes “Odontologia no Contexto Interdisciplinar”.

“Nosso objetivo é buscar novas alternativas de tratamento para esse câncer de boca e percebemos que temos diante de nós uma rica vegetação de cerrado que pode ser explorada de forma racional e sustentável com foco na produção de novos conhecimentos, e é claro, na busca incessante da cura do CCE”, afirmou o pesquisador.

O estudo foi apoiado por bolsas do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) e da Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig). Neste caso específico, o estudo foi o resultado da tese da aluna Talita Antunes Guimarães.

CASCA DO FRUTO DO PEQUI E BIOINFORMÁTICA

O ácido gálico é um polifenol encontrado em vários produtos naturais e apresenta atividade anti-inflamatória e forte ação antioxidante. O ácido gálico também pode ser obtido na casca do pequi, fruto-símbolo do cerrado. Esta descoberta pode se tornar uma atividade econômica interessante para a região do Norte de Minas, pois há estudos que indicam que o ácido gálico pode ter uma ação contra o câncer, mas os pesquisadores levaram o estudo para um campo mais amplo de investigação: as células neoplásicas sob hipóxia (definida com a diminuição de oxigênio no meio, que faz com que as lesões se tornem mais resistentes à radioterapia).

A partir destes estudos, a Unimontes tem desenvolvido estratégias inovadoras no campo da Bioinformática. A Universidade é uma das pioneiras a usar a técnica dos genes líderes neste campo de estudo. “Com este banco de dados, a investigação científica torna-se mais dinâmica. Testamos um modelo teórico que explicasse o mecanismo de ação do ácido gálico no carcinoma e o uso da bioinformática favoreceu a interação e as análises de dados. Em outra etapa, os resultados teóricos foram confirmados (migração, invasão, proliferação e expressão do gene)”, afirmou o coordenador dos estudos.

DETALHES – Os dados analisados com o uso da bioinformática sugerem que o ácido gálico pode reduzir a proliferação de células cancerosas humanas em condições de diminuição das taxas de oxigênio (hipóxia) indicando que o ciclo celular e metabolismo de proteínas são os principais processos biológicos associados com o tratamento com ácido gálico.

“O estudo mostrou que o ácido gálico possui propriedades anticancerígenas capaz de inibir a proliferação celular, mesmo em hipóxia”, acrescenta André. Os resultados já foram aceitos para publicação na revista “Anticancer Drugs”, referência internacional em investigações científicas e terapias sobre o câncer, destacando que o ácido gálico induz a morte de células neoplásicas hipóxicas. A próxima etapa da pesquisa é iniciar os testes de laboratórios (com animais). O projeto já foi aprovado pela CEBEA (Comissão de Ética, Bioética e Bem-Estar Animal) e encontra-se em fase de implementação.

Caso o resultado confirme o estudo, a próxima etapa seria os testes para humanos. “Nossa meta agora é definir os testes e desenvolver mais análises associando cada vez mais a pesquisa e a utilização racional do Cerrado como forma não só de estimular o conhecimento científico, mas, sobretudo alcançar novas alternativas de tratamento para o câncer de boca”, finalizou o pesquisador André Guimarães.

PRODUÇÃO CIENTÍFICA DO PROGRAMA

Entre 2007 e 2016, o PPGCS produziu 545 artigos científicos e com a titulação de 39 mestres e 31 doutores. A equipe de pesquisadores envolvida no estudo é formada por Talita Antunes Guimarães, Lucyana Conceição Farias, Carlos Alberto de Carvalho Fraga, John David Feltenberger, Geraldo Aclécio Melo, Ricardo Della Coletta, Sérgio Henrique Souza Santos, Alfredo Maurício Batista de Paula e André Luiz Sena Guimarães e as parcerias com Instituto de Ciências Agrárias da Universidade Federal de Minas Gerais (ICA/UFMG) e a Faculdade de Odontologia de Piracicaba (Unicamp).

Fonte: Unimontes – Universidade Estadual de Montes Claros.

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