Lagoas Marginais do Rio São Francisco
VOCÊ SABIA???
Lagoa da Comprida, situada no Parque Estadual da Mata Seca, município de Manga/MG; |
Que bacia hidrográfica do
rio São Francisco é a terceira maior em extensão do Brasil, estando totalmente
localizada em território brasileiro, correspondendo a 8% deste. O rio é perene,
apesar de seus afluentes, localizados na região da caatinga, serem
intermitentes (Rosa et al. 2003), podendo apresentar vazões torrenciais no
período de novembro a março e nulas de abril a outubro (Sato & Godinho
1999). Cerca de 83% da bacia encontra-se nos
Estados de Minas Gerais e Bahia, 16% em Pernambuco, Sergipe e Alagoas e 1% em
Goiás e Distrito Federal.
Com a construção das Usinas
Hidrelétricas pelo Governo federal ao longo do rio São Francisco, o nível da
água do rio foi alterado de forma significativa, e conseqüentemente o ciclo
natural das lagoas marginais, sendo que atualmente praticamente nenhuma mantém
suas características originais como berçário na preservação das espécies
íctias.
Atualmente, apenas o trecho
de 1.100 km
entre as barragens de Três Marias e Sobradinho tem corredeiras, com um desnível
de apenas 50 m ,
com menor velocidade e sujeito a grandes cheias (CODEVASF 2008), e é nele que
se encontram diversas lagoas marginais, áreas consideradas importantes para a
comunidade íctica por servirem de berçário, proteção e abrigo (Welcomme 1979,
Agostinho et al. 1993, Vazzoler et al. 1997, Araújo-Lima & Oliveira 1998, Medeiros
& Maltchik 2001, Zeug et al. 2005) e locais de crescimento e recuperação de
adultos (Agostinho et al. 1993), incluindo espécies de piracema (Vazzoler et
al. 1997).
Durante a estiagem, os
canais e áreas alagadas ficam isolados, formando poças e lagoas marginais que
se reconectarão na próxima cheia (Pompeu 1997). O sucesso na composição da
assembléia de peixes em planícies inundáveis é determinado pela duração do
pulso de inundação, uma vez que sua colonização ocorre durante os períodos de
cheia, aumentando a quantidade de alimento e áreas para abrigo. A extinção ocorre
durante o período de seca, com o aumento do nível de predação e redução da
oferta de alimento, abrigo e dos níveis de oxigênio dissolvido (Halyc &
Balon 1983, Junk et al. 1989), extinção inclusive das próprias lagoas que vem
ocorrendo com a ação antrópica através de aterros, diques e drenagem das mesmas
visando formações de áreas de agricultura, pastos e até mesmo loteamentos
urbanos.
Em se tratando de Lagoas Marginais do rio
São Francisco, protegidas pela Legislação Pesqueira do Estado (Lei 14181 de
/01/2002, art. 18) e cuja prática da atividade pesqueira é proibida (Dec. 43713
de 14/01/2004, art. 14 inciso I alínea b) por se tratar de berçários naturais
que contribuem na reprodução dos peixes nativos, embora suas características
originais (área de espelho d’água, profundidade, qualidade físico-química da
água, ciclo de abastecimento no período chuvoso, dentre outros) tenham sido
bastante alteradas com o início da operação da Usina Hidrelétrica de Três
Marias em 1962, esses ecossistemas têm
que ser preservados o máximo possível em suas características atuais e
“naturais”, embora saibamos que de “natural” mesmo nem o próprio nível da água
do rio São Francisco o é, pois o mesmo é controlado praticamente totalmente
pelo homem. Mesmo assim, tem-se que se ter muita cautela com ações antrópicas
visando benefícios a essas Lagoas, a fim
de se evitar novos e catastróficos danos
às mesmas e ao meio ambiente como um todo.
Uma vez comprovada a
importância das lagoas marginais como ecossistemas imprescindíveis para a
preservação e manutenção das espécies íctias e toda a biota aquática existente
na Bacia Hidrográfica do rio São Francisco, necessário se torna que as mesmas
sejam tratadas com especial atenção pelo Poder Público, principalmente pelos
Órgãos de defesa do Meio Ambiente, e maiores esclarecimentos sejam amplamente
divulgados às populações ribeirinhas sobre a necessidade de preservá-las.
José Vanderval de
Melo Junior
Engenheiro de Pesca
ERAMSF/IEF
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